Lógica da solidariedade
Para os críticos à proposta do governo, estabelecer os mesmos critérios previdenciários significa aumentar a desigualdade entre os sexos.
Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios, do IBGE) de 2015, elas trabalham mais, ganham menos e ocupam vagas piores.
Permitir a aposentadoria mais cedo, dizem, seria um jeito de amenizar as diferenças.
"Estamos quebrando a lógica da solidariedade. Você não tem um grau de cooperação só entre as gerações novas e antigas, mas entre homens e mulheres. Elas têm uma inserção no mercado muito mais instável. Evidentemente a maternidade dificulta", diz a economista do trabalho e professora da UFRJ (federal do Rio) Lena Lavinas.
A extensão da jornada é uma das principais discrepâncias citadas.
Ainda de acordo com os dados do IBGE, as brasileiras trabalham, em média, 55 horas por semana, incluindo os afazeres domésticos. Os homens dispendem 50,5 horas.
Baseadas nesse parâmetro, acadêmicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) produziram um artigo em que defendem que equiparar as regras de acesso à Previdência fará a mulher trabalhar mais.
Segundo seus cálculos, a cada ano as mulheres trabalham, em média, 12% a mais do que os homens. De acordo com a lógica, um tempo mínimo de contribuição de 25 anos, como propõe a reforma do governo, representaria 28 anos de trabalho para as brasileiras.
A mestranda Fernanda Félix e as professoras Luana Myrrha e Cristiane Corrêa escreveram ainda que o desconto de cinco anos concedido hoje nas regras "ainda é insuficiente para compensar a dupla jornada".
Para a economista e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Hildete Melo, a matemática da expectativa de vida, segundo a qual as mulheres são privilegiadas porque vivem mais, é enganosa. O cálculo não só exclui as tarefas domésticas, diz a professora, como ignora a reprodução.
"Além de carregarmos um filho na barriga, quando ele coloca a cabeça no mundo é tudo responsabilidade feminina", diz Melo, editora da revista Gênero, da UFF, onde o trabalho será publicado.